domingo, 5 de fevereiro de 2017

Sobre escrever

Estou com dificuldade em escrever minha dissertação, e então me lembrei das dicas de Malinowski. Se não me engano, ele dizia que era bom ler uma literatura enquanto escreve as letras acadêmicas (meus professores também diziam isso na faculdade), e além disso, manter um diário pessoal.

Esse diário pessoal, me parece, é para desentupir essas veias de palavras que não querem sair. Então se escreve livremente sobre quaisquer bobagens, para as palavras bobas irem saindo de mim, e dando espaço para saírem algumas palavras boas que possam descrever academicamente as paisagens que me dispus a descrever. Também, ao que me parece, este diário pessoal de bobagens é para ir treinando a fluidez da escrita. Escrever assim, livremente sobre qualquer bobagem, para ir treinando essa fluidez, e quando menos se espera, lá está você, fluindo como um barquinho, no seu texto acadêmico.

Não acho meu nome bonito, é tão estranho e não parece significar nada. Então fui pesquisar, e descobri que é o nome de uma cor, a cor amarela, em latim. Uma origem latina, a língua dos padres, a língua que eu queria aprender na época da faculdade quando eu ainda era assim tão poética e disposta a dedicar meu tempo a atividades que não levam ninguém a lugar nenhum. Amarelo ouro, ou dourado. Cor do Sol, então me alegro por meu nome remeter ao Sol Dourado.

Está entupida essa minha fonte das boas palavras. Então vou começar a escrever palavras sem sentido ou relação entre si, só para elas irem saindo de mim e desentupindo a fonte. Vermelho, soldado, sangue. A mágica magia, ou será que meus dons de escrita mediúnica me abandonaram finalmente? Sempre foi fácil para mim escrever, mas depois considerei esta uma sina, como uma cruz pesada a se carregar. Ah a sina da escrita.... é um caminho sem volta, dispõe-se a escrever e depois lá está, enredada em compromissos, querendo estar em outro lugar mas não, é preciso cumprir com o que se prometeu. A sina da escrita que é amiga da sina de nunca conseguir desistir ou perder. Não posso perder, não posso desistir, imagina, isso não combina comigo, a vencedora das vencedoras.

Eu vou pelo Sol, caminhando neste espaço. Eu vôo pelo Sol, com a Lua me acompanhando. E a coragem de apagar tudo, e a autocrítica bem ferrenha, de se ler, reconsiderar, apagar tudo e reinventar outras frases. Considero uma sina também essa da antropologia, aonde já se viu, ter a intenção de descrever povos, lugares que se viu numa experiência real... quando as letras só se prestam a descrever magias, fantasias de mundos invisíveis, de histórias inventadas! E colocar o pé no chão de uma realidade, e intentar uma experiência assim tão sóbria! Meio agarrada na ilusão, que é principalmente numa ilusão estatal das histórias dos povos que habitam esta terra. Que saudade do jornalzinho da escola. Da redação com temática livre. Mas foi você mesma quem inventou, foi tu mesma que se dispôs! Passou madrugadas em claro empolgada com um novo projeto, descrever mais um povo de história assim tão fascinante, ao invés de ir dormir ou conversar com os espíritos que andam pelo mundo para curar os enfermos, numa prosa assim inocente, sem intenções.

E lá vou eu para mais um eterno retorno, o de estar tão agarrada a compromissos líteros, quando o compromisso maior é o do amor para com os meus! Foi assim na reta final do primeiro mestrado. E está sendo assim na reta final deste agora.

Este diário pessoal, pelo que eu me lembre das dicas do Maliniwski, é para ir escrevendo, escrevendo, desentupindo a fonte das letras e nunca mais se relendo. É só para ir fazendo esse rio, ou esse mar, um montoado de letras desconexas, que não se pode ler ou reler pois se é rio, já foi, está longe indo para o mar. Ufa! Já não era sem tempo, uma técnica de escrita em que não se tem o compromisso de saber se está bom ou ruim. Apenas soltar essas amarras, essas líteras amarradas em algum corredor apertado.

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