terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Para não esquecer como se escreve um artigo

Acordar estava sendo cada dia mais difícil, posto que os dias iam se passando, e meu texto não conseguia sair dos dois primeiros parágrafos que descreviam o trajeto de Roque de Barros Laraia pela floresta densa em 1961. Eu abria meus olhos e a vontade de desistir me dominava, fazendo aliança a sonhos ruins. Naquele dia, me levantei com dificuldade, e a única motivação para eu sair de casa foi mentalizar um café expresso que tinha descoberto ali perto de casa e perto do trabalho.

A todo o momento eu tentava me lembrar como é que, no passado, eu havia conseguido escrever relatórios para agências de fomentos, e até artigos científicos que haviam sido aceitos para publicações em revistas acadêmicas de Antropologia. Como é que eu fazia? Como é que eu sabia escrever?

Em casa, não conseguia estudar, e no ambiente doméstico meu psicológico se encontrava cada vez mais abalado. Após a restauração momentânea obtida através da xícara de café expresso, obriguei meu corpo e minha alma a ir até a escola. A ideia era fincar a bunda em uma mesa da sala dos professores, e não sair de lá até que os deuses da escrita viessem em meu auxílio. Subindo a ladeira que dá acesso à escola, falei com Jesus Cristo na minha máxima sinceridade possível: "Meu amigo, me dê um sinal. Se eu não sair desses dois primeiros parágrafos no dia de hoje, prometo que amanhã mesmo faço as minhas malas, boto dentro do carro e pego o beco nessa Belém-Brasília."

E ali fiquei, sentada na mesa, olhando para a cara do computador, arriscando alguns rabiscos, apagando tantos outros, das doze horas até às dezoito horas da tarde. Lá por perto das dezessete e trinta, os deuses da escrita finalmente começaram a baixar, e foi então que me lembrei como é que eu tinha feito para escrever aquele artigo que consegui publicar há uns cinco anos atrás. E para não esquecer, deixo aqui o registro.

Eu me obrigava a sair cedo e ia para a biblioteca. Saía cedo, entrava na biblioteca, abria meu computador, e alternava um chocolate e um café, até a hora do almoço. Almoçava rapidamente e voltava para a biblioteca, só saía de lá na hora de fechar. Depois de uns três dias seguido fazendo isso, os deuses da escrita começaram a vir me visitar, e o texto começou a fluir. Em duas semanas, eu tinha meu artigo pronto. Bingo! Me lembrei! Esse é o macete: acostumar o corpo e a alma a estarem em um só lugar por uns tantos dias, exercendo este mesmo exercício de escrita.

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